sexta-feira, 4 de julho de 2008

gracice

MASOQUISMO

Na pureza dos meus nove anos,
A professora exigia
Postura
E d i s c i p l i n a
Em cada aula de balé.
Chegava a pisar meus joelhos finos
Forçando abertura
contínua
Das pernas meninas
A tocar o chão.
A musculatura
Sofria
no pino
Por esse combate.
“Que pernas mais duras!”
Gritava, ferina,
A Dona do Espacate.
E a dor, feito sina
Era só um ponto bom.
Para ambas, um bem.

Doze anos depois,
eu atino:
Hoje é força maior,
masculina
A exigir abertura
B a i l a r i n a
Das minhas mesmas pernas
(já pouco imaturas
E bem menos finas
De tão menos puras...)
E a dor
desatina no mesmo gostar
Que já tinha
a longínqua tutora:
Se acordo miando
“Que dor nas minhas coxas!”
Ele só ergue a vista,
E ri, masoquista:
“Foi foda, hein, cantora?”
Me beija, e é bom.
Para ambos, um bem.