sexta-feira, 4 de julho de 2008

gracice

MASOQUISMO

Na pureza dos meus nove anos,
A professora exigia
Postura
E d i s c i p l i n a
Em cada aula de balé.
Chegava a pisar meus joelhos finos
Forçando abertura
contínua
Das pernas meninas
A tocar o chão.
A musculatura
Sofria
no pino
Por esse combate.
“Que pernas mais duras!”
Gritava, ferina,
A Dona do Espacate.
E a dor, feito sina
Era só um ponto bom.
Para ambas, um bem.

Doze anos depois,
eu atino:
Hoje é força maior,
masculina
A exigir abertura
B a i l a r i n a
Das minhas mesmas pernas
(já pouco imaturas
E bem menos finas
De tão menos puras...)
E a dor
desatina no mesmo gostar
Que já tinha
a longínqua tutora:
Se acordo miando
“Que dor nas minhas coxas!”
Ele só ergue a vista,
E ri, masoquista:
“Foi foda, hein, cantora?”
Me beija, e é bom.
Para ambos, um bem.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Para Viver Um Grande Amor

É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

(Vinicius de Moraes)

terça-feira, 27 de maio de 2008

mês de junho

um brinde ao mês da festa junina, do Signo de Câncer, do Dia dos Namorados e também do show no teatro do Shopping Eldorado, dia 11, amém!



poemeto fresquinho:
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O PULO DA GATA


Foi um gatinho que achei na rua.

Vendo um felino de tamanha categoria
(Forte-Esguia)
E livre
E leve
E desempedido,
Pensei: Que desequilíbrio!

E me desequilibrei pro lado dele.

carochinha




Era uma vez. A menina que se apaixonou arrebatadoramente por um moço muito bonito que chegou em sua vida muito desavisadamente – sem permissões, previsões ou quês. Assim-assim: chegou um moço!. E ele está aí.
Um encanto, ali, entre eles, súbito: se em algum tempo foram desconhecidos, desligados um do outro, esse tempo era de há, longe, era excesso - tempo que sumiu no horizonte, tempo que não tem por onde puxar. E agora, agora sim!, era o tempo existente real, tempo-presente, que pulsa estoura transcende revolve,
e a história deles se inventando, graciosa; era um presentinho do acaso, feliz feliz feliz.
A Menina e o Moço: ancoraram-se um no outro, e àquela calma quente que exalava deles quando perto, àquilo chamaram-lhe Amor. E eram a Menina o Moço; Mulherão e Menininho; Tia e Tio; Tigresa e Canguru - língua tola e invejável dos amantes em sua adorável perdição.
E não há recanto onde caiba a dúvida de que eles foram felizes como não se imagina – e felizes muito para sempre, porque viviam felizes já-hoje, e Hoje tinha toda a beleza que o Sempre teimaria roubar:
Hoje chamava-se A Menina e o Moço.

E esta página é sem fim

quarta-feira, 21 de maio de 2008

psiu

"Só mais um silêncio.
O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."

J G Rosa

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O texto que virou um frevo em parceria com Giana Viscardi (Conheçam Giana)! O frevo, vocês conhecerão.









DA CEGUEIRA



Pensou que ia ser fácil, Maria, foi ou não foi? Foi, no aeroporto. Quando ficou abraçada a Marcelo que enfeitava seu rosto de beijos, tentou decorar, tentou mais saber, que gosto ele tinha, o peso de cada braço, o cheiro da pele dele; chorou mas foi pura, que nem criança: chorou mas poderia esquecer o motivo à primeira distração que lhe apresentassem, choro-leve, por isso achou mais delicioso que nunca seu marido-noivo Marcelo quando se despediu, e pensou que eles nem mais se veriam na vida, mas que não tinha problema, já tinham construído tanto a beleza só deles. E realmente, no fundo pensou que ia ser fácil. Só porque previa as maiores distâncias.

Acontece que - só Deus para se rir de tamanhas pequenas desgraças do amor - passou a semana em lonjuras, e a cama solteira aumentava assombrosa a cada noite, Maria sozinha, a princípio nem doía, só incomodava, qual coceira; bebia uma água, pensava a letra de uma música, dormia, passava. Aí mais noites passaram, houve mais músicas, a cama anoitecia, ciúmes, Maria nem sabia do quê, e foi ficando fraquinha, adoeceu, aí que doía.

Aí chamou por Marcelo só um pouquinho, antes de dormir, nem deixou-o tempo para atender ao chamado, só quis tocar, Finge que é pra ver se toca ou emuda ou dá sinal de ocupado, nem tinha nada o que dizer. No dia seguinte, já melhor, meditosa na fase de fim da convalescença, Marcelo ligou. Só seu nome já enfeitava o escuro, piscando na tela brilhante do celular - "marcelo-delícia chamando". Certas graciosidades vêm a calhar. Ouviu a voz dele, demais diferente, ou não, e foi melhorando, sorrindo, como quando já disse Te amo seu doido, e mesmo quando ele não respondesse, certas frases não carecem da contra-proposta. Maria, uma gotinha ainda cansada da doença, evaporava gotinhas, cantava por dentro ao ouvir a voz fervente de Marcelo. Chorou ao desligar o telefone e se sentiu tão boba. Sabia que ia ser assim ou pensou que ia ser fácil? Chorava cantando por dentro, fazendo chuvas e sóis, nem tão mais tarde que as serpentinas. Marcelo era carnaval o ano inteiro e Maria tinha saudades e ciúmes do ano inteiro que na vida real não continuava carnaval. E pensar que ia ser fácil, se afastar de um homem desses, Maria francamente às vezes não enxerga a um
palmo do nariz.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

poemeto sem açúcar

Café

Hoje
É um dia normal
E faz frio.

Poderia chover;
Estiar;
Fazer sol;
E ser um dia igual;
Parecido.

.

Às vezes,
Quando Maria se senta na varanda para fumar um cigarro ou dois,
Sente falta de Vinícius.



Mas, na maioria das vezes,
Sente só prazer.

Conselho? nenhum

"Dar bons conselhos é insultar a faculdade de errar que Deus deu aos outros.

Só é permitido que se peça um conselho a alguém para saber bem, ao agir ao contrário,

que somos bem nós,

bem em desacordo com a Outragem."



Fernando Pessoa (O Livro do Desassossego)

sábado, 10 de maio de 2008

SESC Pompéia - Terça

Muchachitos,

Façam o favor de aparecer terça-feira na choperia do Sesc Pompéia lavar a alma comigo! É grátis! Às 21h! E sempre a agenda no site http://www.brunacaram.com.br/



E no fim-de-semana, indico a vocês o show que o Dominguinhos está fazendo no Fecap, fui quinta passada e saí flutuando...



"Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com o teu corpo inteiro."

Clarice Lispector, O Livro dos Prazeres



Ouçam Lokua Kanza. Tem aqui ó http://www.myspace.com/lokuakanza.

E bom sábado!



quinta-feira, 8 de maio de 2008

V O X

A voz e o silêncio.

No amor na literatura.:



"A mais poderosa arma de sedução é o silêncio. Ponha suas intenções à mostra, mas não fale nada. Cale".

Dorival Caymmi (ouçam Caymmi, ouçam Desde Ontem dele).





"É mais ou menos assim que nasce o amor: a mulher não resiste à voz que chama sua alma amedrontada; o homem não resiste à mulher cuja alma retorna atenta à sua voz".

Milan Kundera (leiam A Insustentável Leveza do Ser)



"Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar".

Guimarães Rosa (leiam tudo, tudo dele)







sábado, 3 de maio de 2008

Música, a linguagem universal...

"Cantava, com uma voz muito suave, uma canção de país longínquo.

A música tornava familiares as palavras incógnitas.

Parecia o fado para a alma, mas não tinha com ele semelhança alguma.



A canção dizia, pelas palavras veladas e o som da melodia humana, coisas que estão na alma de todos mas ninguém conhece".



Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego

terça-feira, 29 de abril de 2008

"Abriu em mim um susto, porque: passarinho que se debruça - o vôo já está pronto!"


J G Rosa

segunda-feira, 14 de abril de 2008

MANUCA BANDUCA

Daqui a pouco eu começo a postar escritos meus, ainda tô com meio pé atrás!
Lá vai um desconhecidíssimo (que deveria ser famosíssimo) do meu amado Manuel Bandeira, um dos maiores poetas de todos os tempos da Brazuca. E é de Recife, terra minha muito amada!


ó, abre o olho:

Teresa, se algum dia um sujeito bancar o sentimental pra cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA

domingo, 6 de abril de 2008

ESPECIAL DOMINGO DE CHUVA PÓS-SHOWS

Um que eu adoro de paixão...

POEMA QUE ACONTECEU

Nenhum desejo neste domingo
Nenhum problema nesta vida
O mundo parou de repente
Os homens ficaram calados
Domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
Não sabe que está escrevendo
Mas é possível que se soubesse
Nem ligasse.

(Drummond de Andrade)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

1, 2, 3, passando o som!!!

Cheguei!!

Numa semana bem esbaforida, mas muito feliz, com clipe novo (não viu? Só falta você! http://www.youtube.com/watch?v=htecf8ZAjZY), shows sexta e sábado no Tom Jazz, terça-feira Villaggio Café (show especialíssimo, só voz e piano, no programa Papo de Músico), e reportagem na capa da Folha Ilustrada! Sobre a Virada Cultural!

Muitas outras boas novidades virão logo, e enquanto isso, inauguro este meu pequeno e querido espaço com um texto de Júlio Cortázar, um escritor que indico e insisto, sem medo de acertar em cheio!
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Instruções para cantar

Comece por quebrar os espelhos de sua casa, deixe cair os braços, olhe vagamente a parede, esqueça. Cante uma nota só, escute por dentro. Se ouvir (mas isto acontecerá muito depois) algo como uma paisagem afundada no medo, com fogueiras entre as pedras, com silhuetas seminuas de cócoras, acho que estará bem encaminhado, e do mesmo modo se ouvir um rio por onde descem barcos pintados de amarelo e preto, se ouvir um gosto de pão, um tato de dedos, uma sombra de cavalo. Depois compre cadernos de solfejo e uma casaca, e por favor não cante pelo nariz e deixe Schumann em paz.

(Júlio Cortázar)

quarta-feira, 19 de março de 2008

bem vindos

bem vindos ao blog oficial da Bruna Caram, em breve posts oficiais, fotos, videos e muitas novidades!